O reconhecimento em maio deste ano do casamento gay por parte do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que divulgou parecer obrigando todos os cartórios do país a celebrarem uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, estaria colocando pressão contra as igrejas evangélicas no Brasil.
Numa extensa matéria sobre o tema, a revista Cristianismo Hoje publicou opiniões de pastores e estudiosos, que veem nesta demanda contemporânea um risco às liberdades individuais e de expressão.
O pastor Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, chanceler da Organização Palavra da Vida, acredita que o fortalecimento dos movimentos LGBT resultará numa busca por privilégios destes em detrimento do coletivo: “A história do ativismo gay no mundo deixa claro que a tentativa será criar jurisprudências ligadas aos diversos setores da educação e da religião que, em tese, se acham protegidos pela distinção entre Igreja e Estado. Isso significaria, em última análise, o fim da liberdade de expressão, e a questão homossexual seria apenas a ponta do proverbial iceberg. Como brasileiro ficarei decepcionado e revoltado se nossa Constituição for aviltada por um decreto que privilegia uma minoria em detrimento dos direitos assegurados de expressão de ideias e defesa de convicções religiosas”, lamenta.
Já o advogado Cláudio Dias, especializado em Processo Civil, teólogo e membro da Assembleia de Deus, entende que o PL 122, caso seja aprovado, resultará numa espécie de caça às bruxas, com patrulhamento das mensagens cristãs por parte dos ativistas gays, que poderão interpretá-las como preconceituosas.
“Isso [o PL 122] é um equívoco, pois assim como os homossexuais têm direito de escolher sua orientação sexual, eu também tenho o direito de ser hétero, sem que com isso precise ter mais ou menos garantias constitucionais”, raciocina o advogado, lembrando que a Constituição Federal ainda não reconhece a relação homoafetiva como uma família: “Fizeram um arranjo hermenêutico para satisfazer os interesses dos gays”.
Entretanto, essa visão não é unânime. O sociólogo Ricardo Malta, membro de uma Igreja Batista, acredita que apesar das pretensões do movimento homossexual, os ânimos tendem a se acalmarem. “Em muitos momentos, percebe-se, por parte de grupos organizados da comunidade homossexual, uma tentativa de fazer do discurso pró-gay uma espécie de senso comum. É a dinâmica de saída do gueto – antes discriminados e perseguidos, os homossexuais adquiriram força social com a concessão de direitos civis e agora querem ocupar espaços […] A nova geração de evangélicos, que convive com homossexuais nas escolas e no trabalho e está submetida a toda uma ideologia inclusivista, já não vê com tanto horror a homossexualidade. A coisa passa a ser tratada como mais uma opção de cada um. E, sob esta ótica, se Deus ama a todos, não é o jovem cristão que vai querer julgar os outros”, afirma.
A ideia de uma eventual “caça às bruxas” moderna também é rebatida por Sergio Viula, um homossexual que foi pastor batista e hoje milita pela causa LGBT: “A ideia de patrulhamento pró-LGBT como se isso fosse equivalente a um patrulhamento antievangélico não corresponde à realidade. Trata-se de uma falácia para confundir as discussões que realmente interessam a todos”, diz.
No entanto, o pastor Carlos Osvaldo discorda, e aponta para uma situação mais abrangente: “Há um esforço premeditado para destruir os valores cristãos na sociedade ocidental”, alerta.
Nesse mesmo sentido, os psicólogos cristãos tem vivido uma espécie de perseguição e patrulha de sua atuação profissional. Entre os casos mais conhecidos, estão o de Marisa Lobo, colunista deste portal, e de Rozangela Justino, que acabou tendo seu direito a atuar profissionalmente cerceado.
“Fui perseguida porque apoiava na igreja e em meu consultório as pessoas que voluntariamente desejavam deixar a atração pelo mesmo sexo, mas, principalmente por ser evangélica. Hoje, não posso mais exercer minha profissão devido às ameaças dos grupos gays, com o advento da Resolução 01/99 do CFP”, protesta Rozangela.
Ela tem travado uma batalha para reaver seu registro no Conselho Federal de Psicologia (CFP) para que possa voltar a atuar: “Ainda estou respondendo a novos processos junto ao CRP-RJ e entrei na Justiça contra a decisão do CFP. Mas meu processo ainda não foi julgado pelos desembargadores, em Brasília”
Rozangela repete o raciocínio de que exista uma atuação conjunta e orquestrada pelo movimento LGBT para amordaçar quem pense contra a homossexualidade: “Os conselhos profissionais vem sendo aparelhados por ativistas da teoria da desconstrução social”. Para ela a aceitação social do estilo de vida homossexual é apenas aparente: “A maioria do povo brasileiro tolera, mas não o considera natural”.
Porém, há no meio cristão quem enxergue o mesmo problema, mas defenda uma abordagem diferente, a fim de contornar os atritos. O pastor luterano Martin Weingartner, diretor da Faculdade Teológica Evangélica em Curitiba, PR, vê a homossexualidade como pecado, mas acredita que o papel das igrejas não seja o de confronto ideológico.
“Quem acolhe a Bíblia como norma de fé e vida, seja evangélico ou católico, jamais legitimará a prática homossexual, mas a verá como desvio de conduta que, como outros pecados, carece de perdão e restauração”, afirma, antes de sugerir uma postura a ser adotada pelas diversas denominações: “Como em relação a qualquer outro pecado, não cabe a cristãos uma postura de orgulho e soberba diante da homossexualidade, pois no confronto com o Evangelho, necessariamente todos somos pecadores carentes da graça de Deus. O remédio é a boa palavra das Sagradas Escrituras, que convida todos para a adesão voluntária aos padrões divinos. Quem dá ouvidos a ela experimenta a força do Espírito Santo a restaurá-lo de suas feridas”.
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