Foi bom que o ex-muçulmano Mohammed Ahmed Hegazy não estivesse presente no tribunal egípcio no último dia 15 de janeiro. Um advogado fez ameaças de morte contra ele por causa de sua conversão ao cristianismo. E o juiz não fez qualquer objeção.
O que torna o problema ainda pior é que o juiz foi distante e ainda expressou sua repugnância com a conversão do acusado. Ele defendeu seu posicionamento dizendo que o islã é a religião principal no Egito. Nenhuma menção foi feita à liberdade religiosa estabelecida pela Constituição do país, que a garante como um direito fundamental de todos os cidadãos.
Mohammed Hegazy e a esposa grávida estão escondidos há meses em um local secreto. Ele é o primeiro convertido do islã que está tentando na Justiça conseguir a mudança de seu status religioso em seu documento de identidade, de muçulmano para cristão. Tudo para que seu filho também seja considerado cristão ao nascer.
Letra morta
A liberdade religiosa no Egito existe apenas teoricamente. Entre muçulmanos não é permitido mudar a religião no registro municipal. E todo filho de muçulmano já nasce automaticamente com o status de muçulmano em seu documento de identidade. Em alguns países a religião consta dos documentos dos cidadãos.
Por volta dos 16 anos, Hegazy se converteu ao cristianismo e assumiu o nome de batismo Beshoi. “Um colega deixou uma Bíblia na minha escrivaninha. Eu comecei a ler o livro e fui tocado pelo amor de Jesus”, explicou ele no ano passado, durante uma entrevista que concedeu em um local secreto.
Tudo pelo filho que vai nascer
Quando a esposa dele, que também é convertida, ficou grávida, ele decidiu pedir a mudança de status religioso. “Caso contrário meu filho será registrado automaticamente como um muçulmano.” Porém, o pedido dele foi rejeitado.
O advogado dele, Ramsis el-Naggar, especializado em conversões, diz que não há nenhuma liberdade de escolha no Egito, a menos que você seja um muçulmano. “Este escritório de advocacia representa uns 400 convertidos. A maioria dos clientes era originalmente cristã e por uma razão ou outra se converteu ao islã, conseguiu a troca de status religioso e agora quer voltar ao cristianismo”, diz ele.
Há funcionários públicos que já registram “muçulmano” automaticamente como um hábito na hora de fazer o registro. E muitos enganos como estes levam anos para serem corrigidos. “Cerca de 90% da população do Egito é muçulmana e os cristãos coptas são a maior minoria”.
Advogado de Defesa
El-Naggar só teve sucesso nos casos em que tinha de provar que a pessoa nunca mudou de fé. Em 2004, ele obteve a primeira vitória. Foi no caso de Mira Makram, 33 anos. O marido dela tinha se convertido ao islã em 2002 e a forçou a assinar uma declaração que confirmava que ela teria se convertido. O status religioso dela foi trocado sem o seu conhecimento.
Depois de dois anos de procedimentos legais, o juiz ordenou que a mudança fosse retificada porque ela nunca deixou de ser cristã. Fundamentalistas islâmicos pediram a morte de Mira Makram. Segundo o advogado, “estes tipos de casos levantam tanta controvérsia que eles estão ficando cada vez mais difíceis”.
Chance remota
El-Naggar aguarda um veredicto semelhante em 22 casos desde o início de fevereiro e está otimista. Porém, o caso de Hegazy é mais difícil porque ele era originalmente muçulmano.
A única chance de sucesso dele seria uma carta do patriarca da Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, Shenouda III, reconhecendo que ele é cristão. Porém, o próprio Hegazy diz que entende a omissão da igreja. “É muito perigoso. Se ele me desse a carta hoje, as igrejas estariam queimando amanhã.”
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